Athletico S/A: especialistas avaliam pontos positivos e negativos da proposta de mudança do Furacão

Sócios votam alteração para modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) em Assembleia Geral nesta quinta-feira; Petraglia defende a mudança.

Chegou o Dia D para o Athletico votar a proposta de alteração do estatuto para se transformar em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Os sócios votam em Assembleia Geral nesta quinta-feira para decidirem se o Furacão deixa de ser uma associação e passa a funcionar como uma empresa.

Os sócios do Athletico podem votar até às 19h desta quinta. A Assembleia Geral Extraordinária acontece em formato online, pelo site do clube.

A mudança de modelo de gestão permitindo a entrada de investidores estrangeiros levanta debates no Brasil. Especialistas ouvidos pelo ge enxergam pontos positivos e negativos na proposta do Athletico.

O exemplo de modelo futuro apresentado pelo presidente Mario Celso Petraglia na segunda-feira prevê a criação da CAP SAF com uma ação de propriedade Classe A e 100% de ações Classe B.

A Classe A representa o chamado “Golden Share”. Ele dá direito à FUNCAP de veto e não de voto nas futuras decisões do clube. A entidade poderia vetar mudanças radicais no clube, como mudança de cidade, das cores, símbolos, entre outros. Evitaria que o Athletico perdesse a sua essência por vontade dos investidores. As ações da Classe B seriam divididas 50% entre o Athletico e 50% entre os investidores.

Para Rodrigo Capelo, jornalista da Globo especializado em negócios do esporte e responsável pela editoria Negócios do Esporte, as fortes relações políticas dentro dos clubes do Brasil podem atrapalhar o interesse dos investidores.

- O investidor vai ter que colocar o dinheiro, mas não terá o controle completo sobre o clube. Vai ter que dividir com a associação. Quem for investir, vai estudar o histórico e saber como são as relações dentro dos clubes no Brasil. A figura da associação civil dentro do clube é um entrave que pode afugentar os investidores – avalia.

Capelo frisa que o fato do clube virar empresa não é significado de boa gestão ou uma melhor administração. Ele usa um exemplo do futebol espanhol.

- No início dos anos 1990, os clubes foram obrigados a virar SAD, uma espécie de SAF. Passou dez anos, e eles estavam quebrados. Tiveram que negociar dívidas que eram impagáveis. Nos anos 1990, eles achavam que fazia diferença o modelo de empresa. Hoje eles veem que não. O Brasil está tendo essa mesma discussão em 2021 – diz Capelo.

O futebol brasileiro tem uma base de comparação semelhante no início dos anos 2000. Equipes como Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Vasco tiveram investidores externos em modelos híbridos de negócio: com os dirigentes dos clubes tomando as decisões junto aos parceiros. Todas elas não deram certo.

- Inevitavelmente houve um choque entre a figura associativa e a privada. A gente não aprendeu nada com isso. Agora os clubes estão tentando um modelo mais sofisticado, mais moderno, mas neste modelo ainda mantém esse conflito.

Por outro lado, o advogado especializado em direito desportivo Eduardo Carlezzo vê com bons olhos a forma como o Athletico está estruturando a proposta. Carlezzo é um dos agentes da proposta do Atlético Goianiense em se tornar uma SAF e acredita que a boa estrutura construída pelo Furacão será a diferença para fazer o negócio dar certo.

- Só vejo pontos positivos na transformação do Athletico para SAF. O clube estudou o mercado, quer fazer a alteração com planejamento, e não por uma questão de necessidade, como é o caso de Botafogo e Cruzeiro. Com investimento externo, o Athletico pode se tornar tranquilamente um clube top-5 do Brasil – acredita.

Carlezzo explica que a transformação de modelo de associações tradicionais para empresas é uma tendência mundial. Para ele, é um caminho sem volta para o crescimento do futebol brasileiro.

- Tirando clubes como Flamengo, que pode gerar receitas muito acima dos outros com torcida, contratos de televisão, entre outros, a solução para conseguir trazer mais dinheiro é a transformação para o modelo empresarial. Entre as ligas mais fortes do mundo, só Brasil e Argentina ainda não adotaram o modelo. O Brasil está começando.

O presidente Mario Celso Petraglia pediu um voto de confiança dos sócios. O dirigente afirmou que com a mudança de modelo para SAF o Athletico será a “noivinha mais bonita do futebol brasileiro”, por ser a que mais atrairia a atenção dos pretendentes – ou seja, os investidores.

Petraglia afirma que o Athletico "bateu no teto" dentro do modelo atual do futebol brasileiro. Para continuar crescendo e brigar entre os maiores clubes do país e da América do Sul, o presidente rubro-negro não vê outra alternativa a não ser mudar o modelo.

- Tivemos a onda inicial da profissionalização, da expansão, e agora é a onda do protagonismo. Para isso, precisamos crescer nossos investimentos e recursos - explica Petraglia.

A decisão está na mão dos sócios. Relembrando, a votação da Assembleia Geral Extraordinária realizada pelo Athletico acontece de forma online até às 19h.


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